Há cinquenta e oito anos atrás, neste mesmo dia, nasceu o útero, onde seriam geradas duas belas crianças.
J loira de olhos azuis nasceria num ano de revolução, 1974, dois anos e 9 meses depois M, bebé rosadinha, olhos claros cor do mar, pele branquinha e macia como veludo.
Duas almas que vieram aqui sem pedirem, sem escolherem, indefesas. Duas almas apenas entregues à protecção de seus pais contra as intempéries da Terra. Os seus pais, outras duas crianças de olhos fechados para o mundo real e com a idade somente o suficiente para gerarem.
Nada previa senão um futuro de conto de fadas para estes quatro seres pelo sangue e a carne unidos.
Um lar que nunca existira, um sonho que era só névoa, uma esperança que nunca vira concretização. Esse fora o seu pecado original e a sua arrogância, o não prever, não precaver que um dia a tempestade poderia vir, e que essa ilusão poderia destruir. Que o dourado da areia era só um luzir, um "tromp d’oleil" e que forças e gentes de outros “lares” se imiscuiriam atirando tábuas de madeira, logrando-os, com falsos intentos de salvação mas que com aquelas lhes acertavam e mais fracos os tornavam.
E que a areia dourada, reluzente, de tanta beleza invejada, nada mais que sonho é enquanto que a rocha, feia, agreste e irregular, debaixo de si guarda a fortaleza de um verdadeiro lar!
Nota da autora: a bóia é um círculo, uma circunferência, a forma geométrica mais perfeita simbolizando o Divino, o Infinito. Deus eterno: o Alfa e o Ómega, sem princípio nem fim. E tem listras vermelhas cor da vida, da paixão, do sangue misturado para manter a união humana.
Epílogo:
M viu a bóia divina a 30 de Dez de 1998.
J abortada a 13 de Set de 1992 (18º aniversário passou a ser considerada fruto de um amor condenado).
I seu útero rapidamente secou e a 15 de Agosto de 1997 quis abandonar seu “lar”. Foi cirurgicamente removido, deixando vazio de sentido para a vida, a hospedeira, um frio e vazio, “hangar” onde outrora se viam aterrar aviões com sementes em carga, procurando terra fértil para germinar.
A a semente geradora expirou a 16 de Setembro de 2001. Não se sabe se viu a bóia e se salvou. Tem-se esperança que tenha conseguido até ela nadar.
A autora,
(J)
Como deves imaginar a tua vida para mim é como um livro, mas que foi escrito por outra pessoa, sabemos nós quem... Faltam páginas e alguns acontecimentos foram alterados. o conhecimento sobre ela não me foi dado a conhecer pelas personagens mas sim imposto pelas circunstâncias.
ResponderEliminarAmei o teu texto e percebi. És uma mulher forte, ás vezes vais abaixo, como todos nós, todos cometemos erros e a vida não é um mar de rosas! Passaste por mais provações do que a maior parte das almas. Mas és forte! Mas se essas provações apareceram no teu caminho é porque as tinhas de superar. Beijos e não te esqueças que a vida está aqui, o que vem depois, logo se verá...
Muito forte, muito profundo e verdadeiramente sentido.
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